Intolerância reforça urgência da Marcha pela Liberdade Religiosa

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A 2ª Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa, que acontecerá conjuntamente à Caminhada de Abertura do Fórum Social Mundial 2010, dia 25, na próxima segunda-feira, se justifica cada vez mais pelos lamentáveis episódios de intolerância e discriminação contra as religiões de matriz africana. Na noite desta terça, dia 19, o Babalorixá Diba de Yemanjá, vice-presidente da CEDRAB (Congregação em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras) foi impedido, por motivo religioso, de dar uma entrevista previamente agendada, para falar sobre o DIDÁ-ARÁ - I Encontro Nacional de Tradições de Matriz Africana e Saúde, numa emissora de televisão em Porto Alegre. O apresentador do programa justificou que o canal de TV é luterano e que, portanto, não poderia contemplar outras religiões. Babá Diba lembrou-lhe que as emissoras de telecomunicação utilizam concessões públicas e que, em função disso, não podem discriminar qualquer religião, muito menos num Estado laico e que tem em sua Constituição um artigo que defende a liberdade de crença e culto.
O sacerdote, que é uma das principais lideranças no país na defesa da liberdade religiosa e dos direitos dos fiéis das religiões afro-brasileiras, registrou a ocorrência na delegacia logo após o incidente.

Intolerância no Rio Grande do Sul

O histórico de discriminação religiosa no Estado é antigo. O Rio Grande do Sul acumula diversas tentativas de constrangimento à liberdade das religiões de matriz africana através da aprovação de leis em âmbito estadual e municipal. Uma delas é a “Lei do Silêncio”, que recentemente resultou no fechamento, na cidade de Rio Grande, do Ilê Africano Pai José de Aruanda Candomblé Oju Omi D’Sango, Iyemoja e Oiya do Babalorixá Marcos de Iyemanjá. O templo foi denunciado por uma única vizinha que alegou perturbação por conta do som dos tambores, o que foi definitivo para que o Promotor de Justiça do Ministério Público de Rio Grande, Dr. José Alexandre Zachia Alan, instaurasse uma ação cível, desconsiderando o caráter religioso, enquadrando-o como casa noturna, e solicitando o fechamento do terreiro, entre outras penalidades.
As tradições milenares dos povos de origem africana, que deveriam ser resgatadas, preservadas e elevadas à condição de patrimônio histórico-cultural brasileiro, no Estado gaúcho, lamentavelmente, são tratadas como perturbação à ordem pública.


Marcha pela Liberdade Religiosa

A 2ª Marcha Estadual pela Vida e Liberdade Religiosa será realizada no dia 25 de janeiro e integrará a Caminhada de Abertura do Fórum Social Mundial. Religiosos e simpatizantes de diversas tradições de matriz africana bem como de outras religiões farão parte da caminhada. A concentração será no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público, às 16h, seguirá pela Avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares, onde haverá um ato público. Em seguida, a Marcha vai se encaminhar à Usina do Gasômetro, onde os religiosos farão a entrega de um presente às divindades das águas no Rio Guaíba.
A Marcha faz alusão ao dia 21 de janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, em que vivenciadores e simpatizantes de religiões de matriz africana de todo o Brasil saem às ruas para denunciar o racismo e a discriminação sofrida pelos religiosos, para defender o direito constitucional à liberdade religiosa e para dar visibilidade aos saberes e tradições dos espaços sagrados e ancestrais da cultura afro-brasileira.

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